Filia Dei
O Coronavírus e o Declínio Moral do Homem Moderno
Atualizado: 30 de jul. de 2020
(Paul de Lacvivier)
Segunda Batalha de Aisne, ano de 1917: em uma semana, trinta mil soldados franceses foram mortos. Batalha de Iwo Jima, em 1945: vinte mil americanos mortos em menos de um mês. Esses homens se sacrificaram com coragem. Sabendo o que os esperava, os soldados ainda formavam filas e avançavam.
Agora pulamos para 2020: as pessoas estão perdendo a noção da realidade devido a um novo coronavírus. Para onde foi a nossa coragem? As pessoas estão se enfiando no bunker da sala, preocupadas em sair e pegar o tal vírus, preocupadas em passar o vírus a outra pessoa. Mas talvez essa maneira de pensar seja sutilmente mais egoísta do que altruísta, mais consciente de si mesmos que do bem comum. Afinal, não somos responsáveis pela forma como um vírus se transforma, se reproduz e se espalha. Quando "achatamos a curva", inflamos nosso próprio senso de importância. Encolhidos em casa, estamos salvando o mundo.
Jesus nos diz, por outro lado, que devemos dar nossas vidas por nossos irmãos e irmãs, realizar obras de misericórdia -- visitando os doentes, alimentando os famintos, enterrando os mortos. Não podemos controlar o que um vírus faz, mas podemos assumir a responsabilidade por nossos corações e almas. Os idosos estão mais solitários do que nunca, as missas estão vazias, o Santíssimo Sacramento está sem companhia. Ouvimos "especialistas" e burocratas, mas não a Cristo. Cristo não disse: "Todo homem por si mesmo", mas disse "Nenhum amor maior tem homem do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus irmãos".
O coronavírus nos mostrou o declínio moral do homem moderno. Nossas sociedades escondem a morte, escondem-na no escuro. Enfermos e doentes mentais são "sacrificados"; bebês são abortados se considerados inconvenientes. Essas pessoas não têm nome e, no caso dos pequeninos inocentes, não têm nome diante de Deus. Ninguém nos principais jornais discute a morte que fomos treinados para não ver.
Mas quando a sociedade moderna nega a realidade da morte, ela também esconde Deus e dificulta a salvação. Tendo rejeitado a Santa Fé Católica, a sociedade moderna se encolhe de terror ante a perspectiva da morte do corpo. A todo custo, a morte deve ser evitada. Quando não pode ser evitada, deve estar oculta. E quando não pode ser ocultada, o assunto deve ser mudado: é racista discutir um vírus, a mídia nos disse. Os secularistas ainda assobiam no cemitério, a música apenas mudou nos tempos modernos.
A "quarentena" está mostrando quão totalmente ineficaz é o regime moderno, quão impotente é entender o significado da vida humana ou da morte. Assumimos que somos indivíduos soberanos e, por isso, recuamos para nossos castelos e subimos a ponte levadiça, desafiando o vírus a desafiar nossa vontade política absoluta. Mas o vírus zomba de nós. Nós clamamos "Igualdade para todos!" mas o vírus também revela a mentira. Algumas pessoas infectadas morrem rapidamente. Algumas pessoas nem percebem que foram infectadas. O Big Brother nos diz que a igualdade se traduzirá em segurança. Ficar em casa, achatar a curva, todos são iguais; na média, você não há de morrer.
Na média, você não há de morrer. Este é o substituto modernista da imortalidade. O Grande Algoritmo determinou que a maioria de vocês viverá. "Aja em uníssono, afirme sua igualdade, mantenha sua defesa soberana". A sociedade moderna não tem curas nem respostas reais, mas possui estratégias e probabilidades. Deus não existe -- porque Deus, por definição, seria mais poderoso que o estado secular moderno. Mas o vírus existe, porque confirma a necessidade do Estado. Escudos, almas afastadas, especialistas em movimento. Ligue a televisão e aguarde pedidos da "Central da Festa".
Aqui está a liberdade do mundo moderno: o bunker, o porão, a enfermaria. Aqui estão o liberalismo e o globalismo: vírus sem limites e pecados idem. Estamos blindados e abrigados, mas vulneráveis como ninguém jamais esteve. A audiência dos filmes de pornografia está estabelecendo novos recordes, já que centenas de milhões de soberanos modernos ficam em casa sozinhos. Podemos acessar nosso vício de praticamente qualquer lugar, podemos espalhar doenças em todo o mundo a mil quilômetros por hora, mas essa liberdade sem fronteiras nos aprisionou em casa, pateticamente sozinhos em frente a uma tela brilhante.
Estamos todos conectados globalmente, somos informados. Enquanto isso, mesmo antes da pandemia do coronavírus, havia a pandemia de solidão, a pandemia da pornografia e o flagrante ódio um pelo outro e por nós mesmos. Aqui também há ecumenismo, modernismo, janelas abertas ao mundo: sem missa, sem sacramentos, nenhuma vida cristã. Os budistas virão consagrar a Hóstia? Os protestantes vão batizar nossos entes queridos, aqueles a quem Deus chama de lar? O CDC ou a OMS enviarão um frade para orar pelas almas dos fiéis que partiram? Talvez a companhia telefônica providencie um bom serviço de zoom não confessional assim que a turbulência do coronavírus passar.
Com notáveis exceções, nossos bispos têm estado completamente AWOL (expressão que se usa quando um membro das forças armadas se ausenta sem permissão). Será essa a Nova Evangelização? E observe a democracia: pessoas comuns exigindo que os governos tomem medidas tirânicas que nenhuma monarquia no passado ousaria adotar, nem sequer sonhou em fazer. Prisão domiciliar para nações inteiras. Vigilância em massa, rastreamento, vacinação forçada, prisões e espancamentos brutais para pessoas flagradas andando por aí. Pegue o governador de Michigan e compare-o com Luís XIV - aposto que o rei Luís XIV estaria entre os Michiganders agora, lutando contra o ditador e seus capangas.
Esse caos nos lembra um ponto muito importante. A natureza humana não muda. A modernidade, que inclui os paradoxos e ironias listados acima, e muito mais, é totalmente contra a natureza humana. Ela promove princípios que os seres humanos não podem suportar. Esses princípios não funcionam, porque são estranhos à nossa humanidade. Então a modernidade se dobra, pressionando-nos a ser ainda mais diferentes do que realmente somos.
Aqui está um dos muitos erros da modernidade: a liberdade como um fim em si mesma. As pessoas precisam primeiro da ordem. Com a ordem, pode haver verdadeira liberdade. Sem ordem, ninguém é livre. A modernidade tem liberdade privilegiada - licença, hedonismo louco, completo desrespeito pelas consequências ou por outros seres humanos - e a ordem deu lugar ao pandemônio como resultado. Quando ocorre uma crise, podemos ver que nos venderam uma lista de mercadorias. Não temos liberdade nem ordem. Temos um Estado com ilusões de onipotência e uma população com a ilusão de controle democrático.
Se você quiser saber o que o Estado realmente pensa dos eleitores, tente visitar um em que seja proibido caminhar no parque. Você não tem liberdade, mas você tem ordem, a ordem do cassetete e do megafone. Você pode ficar na fila para ser fichado. Você pode aguardar em uma cela para ser acusado. Não andarás no parque. Não jogarás ao sol. O estado faz uso da violência e chama isso de paz. O estado nega a necessidade de ordem, mas a natureza humana exige isso; assim, no final do dia, a natureza humana vence e você recebe uma ordem, mas uma tão severa que até as civilizações pagãs da antiguidade teriam tremido e se rebelado. Os pagãos não conheciam a caridade, então a lei tendia a ser taliônica (olho por olho, dente por dente), mas pela mesma medida justa. No mínimo, os pagãos conheciam a natureza humana, enquanto nós esquecemos. Uma quarentena pagã levaria em conta a natureza humana. Hoje, temos apenas a lei, fria, robótica e absoluta. Em suas casas, cidadãos. O estado falou. (Mas lembre-se de votar!)
Aqui está outro erro: o mundo sem fronteiras. Se você está atrás de uma porta, você desmentiu o princípio central do globalismo. Até os globalistas usam cadeados. Deixar alguém entrar a qualquer momento e em qualquer lugar é loucura. Uma sociedade justa, uma sociedade sã, discrimina: quem ajudará a construir nossa sociedade, quem ajudará a elevar nossas comunidades em caridade e respeito? Nem todo mundo é Madre Teresa. O Estado diz que é mau aplicar a razão em sua vida diária. Você deve manter a porta aberta para todos. Essa teoria foi destruída pelo coronavírus. Fronteiras, muros, cercas, portões que trancam e abrem: sem eles, estamos no inferno, onde o preço da entrada é exatamente o mesmo que o da modernidade, e a tranca é colocada igualmente baixa.
O mundo moderno rejeitou a ordem católica, mas não obteve total liberdade em troca. Em vez disso, conseguiu uma ordem difícil, a ordem do punho de ferro. A caridade católica, a terna consideração pelos fracos e sofredores -- se foi. Agora temos o catecismo de Malthus: conte os vivos, conte os moribundos, calcule os números, apenas os fortes sobreviverão. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, um dos campeões mundiais de infanticídio, diversificou seu currículo, incluindo também o título de geronticida. Ele condenou deliberadamente pessoas em casas de repouso à morte. Eles provavelmente não votariam nele de qualquer maneira. E, afinal, eles eram velhos e fracos. Esparta precisa de guerreiros; os velhos comem o que os jovens precisam para a batalha. Esse é um tipo de ordem. Não é a ordem de Cristo, mas a ordem de uma determinada realização.
É uma ironia, porém, que essa "quarentena", que é a maior honra já dada a Malthus, tenha conseguido garantir a miséria humana. Todos corremos o risco de morrer se sairmos enquanto o vírus estiver lá fora. Um bloqueio, no entanto, destrói a sociedade absolutamente. As chances de a economia entrar em colapso e as pessoas entrarem em depressão e desespero se forçadas a ficar em ambientes fechados são de cem por cento.
E temos que passar por todo esse péssimo teatro malthusiano apenas para brincar com a crença de que o governo tem tudo sob controle. Estamos essencialmente aguardando o "momento Deus" do governo, o momento em que ele anuncia que desenvolveu uma vacina e estamos todos salvos.
O governo não pode admitir sua impotência intrínseca no controle de doenças, por isso controla as pessoas. As pessoas pagam o preço pelas perigosas ilusões do governo. As democracias obrigam seu próprio povo a implorar pelas medidas autoritárias que, por si só, são apontadas como remédios para o que a democracia produziu. Comece com a Bastilha, termine com Robespierre e depois leve Napoleão para o começo. Toda vez.
Existe um ranking interno nos seres humanos. Temos camadas de vida dentro de nós. Nosso espírito supera nossa carne. Nossas almas são maiores que nossos corpos. Se nos apegarmos apenas à vida das células, perderemos aquilo que nos torna humanos em primeiro lugar. Nós não somos processos biológicos. Nós somos filhos do Deus Todo-Poderoso. Estamos neste mundo por apenas um tempo. Nós somos como as flores do campo. Os monges costumavam manter crânios em suas mesas para lembrá-los disso. Quem deposita seu tesouro no céu será feliz com Deus para sempre. Quem deposita seu tesouro na terra conhecerá apenas o ladrão, a ferrugem e o verme. Onde está guardado nosso tesouro?
Há um vírus nos perseguindo agora, mas esse vírus não nos persegue sozinho. Nossos falsos princípios estão nos matando, corpo e alma, muito antes do horror de Wuhan. Individualismo, ateísmo, democracia, liberalismo, globalismo, igualitarismo -- essa é a nossa morte real, e eles não nos atingiram pela primeira vez em 2019. Antes de nos preocuparmos com os vírus chineses, estávamos preocupados com o comunismo chinês? Não é esse o principal dos “erros da Rússia” sobre os quais Nossa Senhora nos avisou há 103 anos atrás? Por que demoramos mais de um século, e todos os pesadelos que o permearam, para despertarmos para o que Nossa Mãe nos disse com amor e gentileza?
Vamos ver este momento pelo que certamente ele é: o castigo de Deus sobre um povo de dura cerviz. Meus irmãos e irmãs, vamos prestar atenção, arrepender-nos e crer no Evangelho. Orem, façam sacrifícios, aceitem os sofrimentos que Deus considera adequados nos enviar. Esse vírus logo diminuirá e os pecados do mundo se acumularão mais!
A justiça será feita, mais cedo ou mais tarde. Não sabemos a hora, mas sabemos a necessidade, agora, de conversão, de penitência e de Jesus Cristo.
